Chuva Caindo

Ao pé do ouvido
falando baixinho
riso trêmulo
aproveitando o frio
amar é bom
com chuva caindo
amar é bom
e a            caindo.
     chuva

Bem-me-quer

E no início da subida
não passará despercebida
uma linda margarida
sabedoria branca e amarela

Bem-me-quer;
pobre flor que se desfaz
e o coração acelera
até que a última pétala revela
resposta que a flora traz.

Fique Mais

Sem pensar em ir embora
a varoa se despede
a garoa cai lá fora
e na calma a chuva desce

Te convenço aqui agora
ao seu olhar se oferece
linda torta de amora
até parece uma quermesse

O meu verso não demora
seu silêncio me aborrece
então me conte sua história
em breve o dia amanhece.

Colosso de Rodes (1 de 7 Maravilhas)

Suprema capacidade humana
artístico dom de impressionar
os nativos se orgulham em terra
forasteiros se encantam no mar

Muito mais que um monumento
verdadeira afirmação
orienta os navegantes
com uma chama na mão

Mas o terremoto está por vir
queria eu avisar
para que,
mais povos do seu tempo
também pudessem admirar.

Selvagem Jeito

Te clamo exagerado
expresso em vocativo
pleonasmo intencional
que reforça o sinal
e,
a culpa é toda sua
nesse seu
[selvagem jeito]
de me calar com um beijo.

Rabiscado ♫

Vivia envergonhada
seu dom era segredo
por uma cisma boba
a menina tinha medo

E o A4  era mania...
de se soltar como podia...
em lápis de cor!
em lápis de cor...

Me desenhou como astronauta
pisando em solo marciano
e num balão rabiscado
se lia
"Eu te amoooo"
ooouuoouou
"Eu te amoooo"

Filosofando

Se o inverno é frio como a morte
é mesmo irônico
que comece no mês seis

Não posso lembrar o fim
quando campo fica belo
com a flor do ipê amarelo
ou a festa do alecrim

Talvez se eu tivesse a "sorte"
de viver no hemisfério norte
e ter um dezembro congelante

Certo que sentiria feliz
depois de um mês nevado
abrir a janela
para um dia ensolarado

Pensamento complexo
e rotineiro ao excesso
persistente como um vício

Mas com ele, delicio:
peguei-me filosofando
no meio de um outono
a espera de um solstício.

So Far (Almost in Love) ♫

Linda, serena, dengosa, pequena
quero em suas ondas navegar..

Sinto o teu cheiro, suave tempero
leve como uma pluma no ar...

Me diga, por que tudo é assim
é amor enfim
de um jovem sonhador...

But nothing is too easy,
I can't feel your kisses
cause now here I am
so far...

Relógio de Pulso

Já quis te apressar velho relógio,
Para ser logo um adulto,
Mas você é muito rígido,
Com seu tic-tac ininterrupto;

Se for possível explicar,
Mande então seu argumento;
Como funciona esta mágica
De ser o marcador do tempo?
Quando estou bem passa depressa,
Quando estou mal, muito lento.

Trio de ponteiros dourados,
Tratado com muito zelo,
Hoje, apenas artefato,
Pra mostrar quem tem dinheiro,
Iludido por um instante,
Pensou ser imortal,
Deixado a própria sorte,
Nesta era digital.

Tudo agora é despedida,
Te conto meio sem jeito,
Provou do próprio veneno,
Tornou-se obsoleto,
Hoje não tem mais uso,
Por eu prezar a liberdade,
E você fica enrolado no pulso,
Como algema da vaidade.

Chapéu de Kate

Delicado e imponente
enigma ou enfeite
é o novo chapéu de Kate

Robusto e maleável
peculiar para que se ajeite
é o novo chapéu de Kate

Difícil de esquecer
forte como lembrete
moldura facial
convite ao seu deleite
traz brilho no olhar
é o novo chapéu de Kate.

Cientista

Olhando para o céu
o idoso cientista
exclamou de passagem:
"_Chega!"
e numa sacada breve
foi completar a mensagem.

"_Ainda me surpreendo

com esse clima ingênuo
me despeço do ouvinte
tão breve como um aceno
eu que já passei dos oitenta
e cientista  não se aposenta.
mas não fica no sereno".

Vampiro

Vive na esquiva
em seu canto escondido
o bandido foragido
atrás de um cachecol

Sente o cheiro apetecível
de um pescoço bem visível
mas não ousa sair no sol

Tão ameaçador e tão frágil
e, de um modo acanhado
permito-me alfinetá-lo

Um voo desengonçado
meio riso disfarçado
vampiro:
o pernilongo amorcegado!

Decreto

Num reino de tempos atrás,
Está decretado em letras garrafais:

"Então, que se enobreça o tucano!
Que é o terror do bem-te-vi,
Que é o terror da abelha,
Que é o amor da flor".

Solidão

A xícara caiu
Não há pressa em intervir
Ideias que invadem
Ousado impedir.

Se a eloquência está na interação
Que chuva de solitários pensamentos
Que surgem, e chamam
Convocam a olhar por dentro
E lento, digerir o pensamento
Bruta dualidade!
Difícil de engolir.

Todo gênio é solitário
Não por opção
Mas por escassez de semelhantes.

Flor Urbana

Sou flor urbana,
suportando tramitação,
crescendo sem pedir
em meio a gotas de poluição,
escutando sem querer,
progresso de civilização.

Sou flor urbana,
procuro estar erguido,
ás vezes em desequilíbrio,
mas sempre em exibição.
para poucos que percebem,
e mesmo que neguem,
é inevitável comparação.

Sou flor urbana,
mas não fico sempre a espera,
do regador da primavera,
ou da chuva de verão.
meu anseio é mais forte
por não depender da sorte,
para molhar o coração.

Sou flor urbana,
e vou levando a vida,
no jardim da avenida
ganho a luz do farol,
ora ou outra no escuro,
sob um monte de entulho,

Sinto
saudade
do amigo
sol.

"Ajedrez"

Silêncio que oculta
clima de tensão
homens se enfrentam
sem mesmo por as mãos
não há cheiro de pólvora
quadrado o mundo está
já se passaram meia hora
impossível notar
numa batalha de cérebros
cavalos em trajes belos
por um reino lutar:
Xadrez!

Carteiro

Num dia de chuva
eis que eu vejo
um dedicado carteiro
andando apressado
e todo molhado
no interior mineiro

Pisando na lama
uma carta me traz
molhar não se importa mais

Peguei a encomenda
com tremenda rapidez
de tão empolgado
não notei minha estupidez

Pensei: que maldade!
foi minha ansiedade
que me deixou assim

Deveria ter dito
um grande obrigado
a quem trouxe a carta pra mim...